O ator Édio Nunes retorna aos palcos com uma nova temporada do monólogo Eu Confesso! As apresentações ocorrem na Casa do Teatro, em Florianópolis, entre os dias 20 e 21 de setembro, às 21 horas. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirado diretamente na bilheteria do teatro, uma hora antes do espetáculo.
Em “Eu Confesso!”, Nunes faz o papel de Deus, que revela, em tom de confissão, um relato feito sobre o processo da Criação. No roteiro inusitado o senhor da criação do universo, relata ter perdido o controle de sua obra. Nesse processo teve sucessos com simples ideias, mas conta acidentes de percursos provocados pelo acaso.
O trabalho rendeu ao ator a Medalha Waldir Brazil, concedida pela Academia Catarinense de Letras e Artes (ACLA), como “Personalidade das Artes Cênicas do Ano de 2014”. O texto e a direção são de Antônio Cunha.
Foto: Renato Gama/Grupo RBS
Serviço:
O quê: Eu Confesso!
Quando: 20 e 21 de setembro, às 21 horas
Onde: Casa do Teatro (Praça XV de Novembro, 344 – Centro)
Lá se vão 55 anos que Édio Nunes resolveu aceitar o convite inusitado de um amigo: “Eu havia ingressado na UFSC e minha atividade extra-curricular era outra, completamente diferente. Eu era atleta de competição, jogava futebol de salão e inclusive participava da seleção catarinense universitária. Não tinha qualquer relação com atividades culturais e de repente fui interpelado por um colega de turma para participar dos ensaios de uma peça teatral”. Em 1962, numa cidade conservadora como era Florianópolis, com uma visão de que quem fazia teatro não era gente séria, o convite bateu quase que como uma ofensa para ele. “Fiquei sabendo que cinco outros colegas da minha turma de calouros estavam participando do projeto e, então, resolvi dar uma conferida”, recorda. O grupo era o Teatro Universitário de Santa Catarina (TUSC) e a peça o clássico Auto da Compadecida de Ariano Suassuna.
Sem qualquer formação acadêmica na área teatral, Édio deixou a coisa ir evoluindo, a partir dos contatos com os companheiros e as companheiras mais antigos. “Aproveitei bem o início da minha formação, especialmente com uma pessoa chamada Odília Carreirão Ortiga, minha primeira diretora e grande mestra”, agradece.
De lá para cá, Édio já passou pelos movimentos teatrais do SESC, do SESI e do Clube 6 de Janeiro e pelos grupos O Dromedário Loquaz, A e Pesquisa Teatro Novo, até ajudar a formar o Grupo Armação ao qual está vinculado ainda hoje. Uma carreira com quase 50 espetáculos e entre os mais marcantes: Auto da Compadecida (1962), Está Lá Fora Um Inspetor (1975), Caminho de Volta (1976), Zumbi (1982), Os Órfãos de Jânio (1988) e Eu Confesso! (2014). No audiovisual, Édio já trabalhou com os principais cineastas catarinenses, já atuou em programas da RBSTV e na locução de trabalhos institucionais para gravadoras.
Nesses anos, o que não faltam são situações inusitadas e engraçadas para contar: “quando da montagem de Ato Cultural de Jose Ignacio Cabrujas, pelo grupo O Dromedário Loquaz, eu tinha que me despir (literalmente) de um personagem para assumir a figura do Leão de Castela. O tempo para a troca de figurino era curto e numa determinada apresentação, até hoje não sei porque, a calça que compunha o figurino estava virada e eu não consegui vesti-la. Não houve solução, tive que entrar em cena somente com a juba do leão e de cuecas”, lembra. Ele também vivenciou momentos mais delicados, como no tempo da Ditadura Militar. “Tínhamos que submeter o texto à prévia liberação pela censura. Inicialmente o texto era “julgado” em Brasília que emitia o atestado de liberação e determinava cortes a seu juízo. Depois, localmente, éramos obrigados a efetuar um ensaio para os “censores” (qualquer funcionário da polícia federal) para então termos o direito de estreia”, revive.
Édio segue firme. Atualmente ele trabalha em dois trabalhos do Grupo Armação: Armação em 2 Tempos, do qual fazem parte o monólogo Eu Confesso! e o drama Flores de Inverno, e o espetáculo de comédia de Odir Ramos da Costa Sopros de Paz e Guerra, recentemente estreado. Ele concluiu recentemente a participação no curta de animação Almofada de Penas, que está em fase final de elaboração, e também integra o elenco de uma webserie intitulada A Detetive da Vila do Corvo que será rodada brevemente na Ilha.
“O teatro na realidade não foi uma escolha. Ele aconteceu na minha vida de uma maneira nada glamurosa”, resume. “Através do teatro, ou a partir dele, eu valorizei as diferenças e perdi preconceitos. Aprendi a considerar mais o coletivo em detrimento do individual”, revela. São valores fundamentais como a disciplina e a perseverança, que estão presentes sempre em cada projeto que desenvolve, que Édio procura trazer para a vida.
Édio Nunes fez parte da primeira turma de auditores internos do Poder Executivo catarinense, ele ingressou na Secretaria da Fazenda em 1963, quando o órgão ainda chamava-se Tesouro do Estado de Santa Catarina, no cargo de auxiliar de oficial fazendário. Natural de Florianópolis, ele é ex-aluno do curso de contabilidade da extinta Academia de Comércio de Santa Catarina e do curso de Direito da UFSC. Entre as várias funções que exerceu, Nunes foi coordenador de Administração Financeira, Contabilidade e Auditoria e a de chefe da Assessoria Técnica. Ele se aposentou em 1989
Na próxima semana, dias 9 e 10 de agosto, o Grupo Armação estreia “Sopro de paz e guerra”, um texto de Odir Ramos da Costa, no Teatro Álvaro de Carvalho. No elenco, o auditor interno aposentado Édio Nunes se apresenta ao lado de Chico de Nez e Sandro Maquel, com a direção de Antônio Cunha.
A apresentação será às 20h30, os ingressos já estão liberados para venda na bilheteria do TAC e custam R$ 30,00 (R$ 15,00 a meia entrada). Mais informações e reservas pelo telefone (48) 98404-4118.
Ainda este mês
Uma reapresentação está agendada no Teatro da Igrejinha da UFSC nos dias 12, 13, 18, 19 e 20 de agosto, também às 20h30.